Há algumas edições falamos sobre o papel que um projeto paralelo pode ter em alavancar a sua marca pessoal. Apesar de eu não acreditar que uma coisa dependa da outra, se aventurar em um projeto que seja só seu, que coloque no mundo as suas ideias, do seu jeito, é uma ferramenta poderosa de autoconhecimento, comunicação, networking, entre tantos outros benefícios sobre os quais já conversamos.
E hoje, para compartilhar histórias, insights e dicas sobre como tirar um projeto bacana do papel, trago para vocês uma entrevista exclusiva que fiz com a Beatriz Guarezi, criadora da Bits to Brands, uma newsletter com mais de 30 mil assinantes, que já fez parceria com WGSN, já palestrou no TEDx, RD Summit, entre outros eventos incríveis. Em tempo, vale ressaltar que essa semana ela anunciou que a Bits não é mais seu projeto paralelo, mas sim o seu “full time job” ou seja, foram 5 anos trilhando uma carreira incrível como gestora de marcas e agora ela passa a se dedicar 100% ao seu projeto pessoal.
Sem mais delongas, vamos à entrevista. Eu tenho certeza que conteúdo será muito útil para você, aproveite!
👩🏽🏫 [Be Machado]: Primeiramente muito obrigada por topar conceder essa entrevista pra minha newsletter, é uma honra ter A pessoa das newsletter falando sobre marca pessoal por aqui. Para começar gostaria que você se apresentasse para a galera, então conta quem é a Bia, mas ainda sem dizer o que você faz.
👩💻 [Bia da Bits]: A Bia é uma mulher de 30 anos, natural de Florianópolis que mora em SP com seu noivo (com quem eu vou me casar daqui a 2 meses). A Bia é irmã mais velha, uma pessoa com muitas abas abertas ao mesmo tempo na sua cabeça e é capricorniana com ascendente em virgem haha. A Bia é uma pessoa que adora as palavras desde que se conhece por gente... aliás minha mãe conta que quando eu era pequeninha, uma das primeiras coisas que eu pedi foi para ela escrever todas as letras do alfabeto em uma folha de papel, e eu andava pra cima e pra baixo com aquela folhinha. Gosto de estar com amigos e família, pertenço a muitos ciclos diferentes, adoro estar, conectar, ouvir e falar com pessoas. Sabe o que é engraçado, muitas dessas coisas também descreveriam o que eu faço profissionalmente.
👩🏽🏫 [Be Machado]: Bom, mas antes de entrarmos no assunto da trajetória incrível que você tem, gostaria que nos contasse a sua definição de marca pessoal e qual a relevância desse tema para nossas carreiras?
👩💻 [Bia da Bits]: Qualquer definição que eu fale aqui vai passar pela definição que eu tenho de marca.
Porque marca é valor e significado construído em volta de um produto ou serviço, e eu acho que quando a gente extrapola isso para marca pessoal, é sobre valor e significado construído em volta de uma pessoa, do seu nome, seu trabalho e trajetória. Então se alguém falar o seu nome em uma roda profissional ou entre amigos, o que isso transmite? quem é essa pessoa? do que ela entende? o que ela faz? qual a energia dela? É sobre o significado que o nosso nome passa a carregar, com base em quem a gente é de verdade, de preferência, mas com base na nossa personalidade, trajetória e na imagem que construímos na mente das pessoas, intencional ou não intencionalmente.
👩🏽🏫 [Be Machado]: Agora sim minha proposta é falarmos sobre sua trajetória, sobre as dores, delícias e aprendizados de uma carreira múltipla. Pelo que sei, a Bits nasceu da vontade que você tinha em ser reconhecida como especialista nas áreas de marketing e tecnologia, mas como você não atuava em uma posição que unia as duas coisas na empresa, você criou seu próprio projeto a fim de compartilhar seu conhecimento nessas áreas. Queria que você detalhasse um pouco mais sobre essa vontade de ser reconhecida por uma expertise, ou seja, construir sua reputação.
👩💻 [Bia da Bits]: Engraçado você falar sobre carreira múltipla, porque por um lado eu me acho uma profissional bastante consistente. A Beatriz de 2013 na faculdade, já estava debruçada em livros de branding, fascinada e pensando: “é isso que eu quero fazer!” e desde então, venho trilhando uma carreira que possui uma linha mestra muito forte nesse universo. Comecei em uma consultoria pequena de Florianópolis, depois eu fui estudar marketing nos EUA durante 1 ano, vivi lá no período do boom das marcas tech como Uber por exemplo, o que fez eu me encantar por esse universo também. Quando voltei para o Brasil e me mudei pra São Paulo, trabalhei com marketing de conteúdo em uma empresa de tecnologia e depois voltei pra consultoria de branding, dessa vez na maior do Brasil que é a Ana Couto. Dali fui para uma startup como gerente de marca e por fim, trabalhei como head de branding no Itaú. Mas, por outro lado, essa história omite uma bifurcação importante que aconteceu em 2018 que foi a criação da Bits to Brands, em um momento de carreira que eu queria unir branding e tecnologia, mas eu tinha acabado de sair da empresa de tecnologia na qual eu não fazia branding, e estava entrado em outra empresa para fazer branding, mas para segmentos que não necessariamente eram de tecnologia. Naquele momento eu pensava: “cara não é possível que eu não vou conseguir fazer essas duas coisas ao mesmo tempo!”.
Então a Bits nasceu dessa teimosia, desse interesse e da minha vontade natural de compartilhar meu conhecimento e meu ponto de vista sobre esses temas.
👩🏽🏫 [Be Machado]: Como foi o processo de criar a Bits como ferramenta para a construção da sua reputação? E qual foi a maior motivação para você colocar a sua ideia em prática?
👩💻 [Bia da Bits]: Desde que eu criei a newsletter minha carreira evoluiu de forma muito acelerada. Foi bizarro como meu projeto pessoal acelerou meus planos de carreira e de vida, de ser reconhecida como profissional referência no universo das marcas e da tecnologia, mas mais do que isso, porque hoje não sou reconhecida porque “eu sou uma pessoa XPTO”, e sim porque tenho um papel na rotina e na vida de outras pessoas, sou inspiração para elas através do que eu compartilho.
Ontem mesmo, estava lendo a mensagem de uma pessoa que falou “Bia, o vídeo X que você compartilhou na Bits me emocionou” ... Olha que especial isso!
Então, acho que mais do que ser reconhecida pelas minhas habilidades e construir uma reputação, eu aprendi a valorizar também o impacto de tocar outras pessoas, sabe? Hoje em dia um grande reconhecimento é perceber que o que eu faço inspira outras pessoas, ajuda elas a tomar uma decisão, a começar sua própria newsletter, a terem uma ideia dentro da empresa porque viram uma referência na Bits.
Mas essa não era uma vontade que eu tinha desde o inicio, não comecei a Bits porque eu queria inspirar outras pessoas, a motivação na época era muito individual, ligada a minha carreira, a minha vontade de expor pro mundo aquilo que eu sabia, a profissional plural que eu era e porque eu não queria que alguém visse meu currículo de branding e achasse que eu não entendia de tecnologia. Mas o grande papel da Bits foi me ajudar a perceber que tudo o que eu preciso está em mim e não em uma marca, uma empresa, ou em um cargo específico.
Isso ficou muito evidente em 2019, quando palestrei pela primeira vez no RD summit, que é um dos principais eventos de marketing da América Latina, o qual eu frequento desde 2016 e sonhava em estar em cima daquele palco ensinando outras pessoas, mas eu sempre achei, e consequentemente sempre trabalhei nessa direção, que eu precisava ser a “Bia da marca X” para conquistar aquele espaço, então foi muito louco pra mim chegar no segundo maior palco daquele evento, e no ano passado no maior palco daquele evento, como a “Bia da Bits to Brands”, e não através de uma marca, empresa ou cargo que me davam credibilidade.
Eu cheguei naquele palco falando daquilo que eu sabia, sobre o que eu acredito, conquistei e desenvolvi. Essa pra mim foi uma virada de chave imensa. Percebi que eu sou capaz de criar e colocar no mundo as coisas que eu acredito, do jeito que eu gosto, do jeito que é natural pra mim, e isso chega até as pessoas de uma maneira especial, reverbera em espaços, em sucesso e em histórias pra contar.
👩🏽🏫 [Be Machado]: É um processo, né... um passinho de cada vez. As poucas pessoas que se desvinculam da lógica do cargo e têm ideias de projetos pessoais paralelos, geralmente enfrentam dificuldade de colocá-los em prática “porque não tem tempo”. Mas a real é que, na maior parte das vezes, não encontram motivação para priorizar o projeto. Não estou dizendo que seja fácil, que não demande abdicar de algumas horas de descanso, mas quando encontramos motivação, a gente faz acontecer.
👩💻 [Bia da Bits]: É um jogo de motivação mental muito forte, não foram poucos os dias em que eu estava muito cansada do trabalho, da ponte aérea São Paulo x Florianópolis, de equilibrar leitura, estudo e tempo de qualidade com meu noivo, então pegar toda essa vida e encaixar um projeto paralelo, que é uma newsletter semanal, cheia de conteúdo, textos e análises nem sempre foi fácil, mas o que eu consigo dizer é que sempre foi extremamente recompensador. E outra coisa, é muito fácil pra gente encontrar momentos de recompensa quando você pensa “uau a Bia estava no palco do RD Summit” a recompensa é evidente e com certeza eu valorizo demais esses momentos, mas eu me sinto recompensada também quando eu recebo um e-mail ou inbox de uma pessoa que responde a Bits, uma newsletter de alguém inspirada na Bits, ou coisas mais simples como ler a Bits quando ela fica pronta e pensar “putz como esse texto é bom, legal e interessante!”. Pode parecer uma pira de autoestima, mas é de certa forma um momento de motivação, sabe? A página que começa em branco e termina preenchida por si só já é uma motivação pra mim.
Então nessa coisa do projeto paralelo, sim é muito fácil encontrar motivação nos momentos em que ele ganha destaque e prêmios, mas a gente precisa encontrar nossas fontes de motivação no dia a dia, seja na comunidade que a gente constrói, no impacto que a gente tem em outras pessoas, no que a gente mesmo é capaz de fazer e se auto motivar, caso contrário o projeto não continua, não vai pra frente.
👩🏽🏫 [Be Machado]: Tendo participado do programa de Creators do Linkedin, conversado com amigos que criam conteúdo e acompanhando as conversas no grupo da Bits (a.k.a. melhor lugar da internet), vejo que o maior desafio de quem encara essa jornada dupla é unânime: saúde mental.
Então agora vem a pergunta de 1 milhão de dólares: qual é, na sua visão, a melhor forma de levar essa carreira múltipla sem pirar?
👩💻 [Bia da Bits]: Sobre levar uma carreira múltipla sem pirar, falando como uma pessoa que já pirou várias vezes, tá? Vamos deixar as expectativas claras aqui: eu acho difícil a pessoa que tem uma carreira múltipla e está 100% bem o tempo inteiro, porque ninguém está 100% bem o tempo inteiro, e porque a gente se coloca em uma posição de exigência maior, uma vez que existe tudo o que está acontecendo na sua carreira, todas as responsabilidades de um emprego fixo e você arruma uma responsabilidade de entrega, constância e qualidade, com você mesma e com outras pessoas.
Para mim o segredo do sucesso, além de encontrar motivação no processo, no dia a dia e não só nos grandes momentos, é escolher um formato que você se sinta confortável, e não o que você acha que tem que fazer porque dá certo pra fulano, porque dá audiência, porque é o formato do momento. Sendo um projeto paralelo, é difícil que você consiga continuar.
Por exemplo, escrever, ler e compartilhar coisas sempre foi natural pra mim, então na hora que o cansaço pega, na hora que a rotina atropela, o que me mantém ali é a facilidade que eu tenho de sentar e escrever um texto. Se eu tivesse um canal no Youtube que exigisse roteirizar, filmar e editar, eu não teria dado conta, eu tenho clareza disso. Enquanto para outras pessoas o mais fácil é pegar um microfone e fazer um podcast, para outras pessoas é um perfil no Instagram.
O autoconhecimento nesse processo é muito importante, porque você já está fazendo uma coisa extra, você quer que aquilo te potencialize e não que aquilo te canse, te derrube, então é importante que a escolha do quê você vai fazer, qual o formato e qual a frequência, seja a seu favor e não uma escolha que acabe jogando contra você.
👩🏽🏫 [Be Machado]: Estamos chegando ao fim da nossa entrevista, mas antes de fecharmos eu não posso deixar de falar sobre um tópico no qual você é FERA: curadoria!
Um dos elementos que compõe uma boa gestão de marca pessoal é repertório, e para a construção dele sempre reforço a importância de sermos os melhores curadores não só de conteúdo, mas também das nossas relações e vivências, porque para sermos verdadeiramente bons naquilo pelo que queremos ser reconhecidos precisamos alimentar nosso arca-bolso de maneira intencional. Qual a sua recomendação para quem quer se tornar melhor curador das próprias referências, independentemente da área em que a pessoa atua?
👩💻 [Bia da Bits]: “Ser curador das próprias referências” que bonito isso! Bom, eu acho que nós todos somos curadores nas nossas próprias referências, mas tem gente que faz isso intencionalmente e gente que não faz. Sempre digo que uma habilidade que eu quero cultivar sempre é a habilidade de conectar os pontos, sejam esses pontos, pessoas, informações ou coisas que parecem completamente aleatórias à primeira vista, mas na minha cabeça fazem sentido.
Fazer curadoria das suas referências, precisa de duas coisas, primeiro temos que reconhecer e nos abastecer das coisas que a gente gosta.
Então, se você é a pessoa que gosta de tutorial de maquiagem, seja a pessoa de tutorial de maquiagem do seu grupo de amigos ou no grupo do trabalho, porque é legal você ser a pessoa daquele assunto, seja qual for o assunto. Nunca jogue fora os assuntos pelos quais você se interessa porque eles sempre vão servir de alguma forma, eu acredito nisso. Às vezes a gente acha que as coisas que a gente genuinamente gosta não são boas o suficiente pra aumentar o nosso repertório profissional, e isso é uma grande mentira.
E a segunda coisa é, se você quer se desenvolver ou intencionalmente construir a sua marca pessoal em um assunto que talvez não seja tão natural para você, se abasteça ativamente de novas referências sobre aquele assunto, nas suas redes sociais e nos ambientes que você está no dia a dia, porque você não vai ter tempo de parar e fazer 1 hora de pesquisa sobre branding, mas se você quer ser uma pessoa melhor em branding, defina quais são as pessoas que você pode seguir nas redes sociais ou um livro que você pode ler enquanto está na praia.
Eu acredito que o nosso repertório vai sendo construído a todo momento, curadoria a gente faz o tempo todo, não é uma atividade com hora marcada.
👩🏽🏫 [Be Machado]: Bia, eu não tenho palavras para agradecer a sua generosidade (desde o nosso primeiro contato pelo Linkedin). Eu sou muito grata por ter te encontrado nessas internets da vida e tenho absoluta certeza que a sua história e os insights compartilhados aqui vão inspirar e ser úteis para a galera que acompanha minha news <3. Por favor, fique à vontade para encerrar essa entrevista falando sobre seus projetos, chamando o pessoal para assinar a Bits, assistir seu TEDx, seu contato para palestras, redes sociais, enfim, o espaço é seu.
👩💻 [Bia da Bits]: Obrigada pelo convite e pela troca, quando eu falo que a motivação e a realização que eu tenho com a Bits é estar em contato com outras pessoas, é exatamente disso que estou falando. Então, obrigada a você pela generosidade, pelo carinho e por acompanhar meus projetos. Para quem não conhece, a Bits to Brands é uma newsletter semanal que traz tendências de tecnologia e comportamento para marcas, é um espaço em que a gente entende melhor o mundo e compartilha referências, ela é gratuita, semanal e todo mundo é bem-vindo. Além da Bits, estou seguindo agora uma carreira como criadora de conteúdo, faço palestras, workshops e estou muito empenhada nesse momento em levar a Bits para o mundo real de diferentes maneiras, com vários temas e em vários palcos diferentes. Estou sempre no beatriz@bitstobrands.com ou no Instagram @bitstobrands.
Parabéns pela entrevista! Cheguei aqui pela indicação da Bits e adorei saber um pouco mais da jornada da Bia. Aproveitei e me tornei assinante da sua news pq adorei os temas q vc aborda! E já aproveitei e indiquei ontem no insta. ❤️